terça-feira, 22 de novembro de 2016

Tomada de Maldonado (22 de novembro de 1816): contexto e visões


Contexto

Conforme as ordens do princípe regente e do governo do Rio de Janeiro, a esquadra comandada pelo chefe de divisão Ferreira Lobo teria por objetivo a conquista do importante porto de Maldonado, considerado por um conselho naval realizado no Rio em Junho como o único ponto de desembarque possível, antes de Montevidéu.

A esquadra portuguesa já estava junto a Maldonado desde Outubro, mas só quase mês e meio depois é que foi decidido o desembarque e ataque à cidade. Muito do atraso teve que ver com o atraso das forças terrestres que ficaram, na sua maioria, paradas em Pelotas e vila do Rio Grande pela maior parte de setembro e outubro.

Estas estavam já firmemente implantadas na área das lagoas Negra e de Castillos, e ainda sem ser do conhecimento da esquadra, tinham obtido uma decisiva vitória, apenas 3 dias antes, em India Muerta, mais para o interior.

A importância estratégica de Maldonado é bem demonstrada por ter sido nesse porto, quase 5 meses antes, a 20 de junho, que se obteve a certeza absoluta que a expedição portuguesa tinha saído do Rio de Janeiro com vista a atacar a Banda Oriental e  José Artigas. 
Quase meio ano depois, cai Maldonado e abre-se um pouco mais a estrada de Monmtevidéu.


Parte oficial do chefe de divisão Rodrigo José Ferreira Lobo respeitante à tomada da cidade e do porto de Maldonado, a 22 de novembro de 1816

Ill.mo e Ex.mo Snr

Tendo o maior prazer, e satisfação de participar a V. Ex." que no dia 22 do corrente, fiz hum dezembarque em Maldonado com as Tropas que tinha de transporte, e reforcei esta com a Brigada Real da Marinha, fazendo ao todo o numero de trezentos homens, e quatro peças de Campanha, sendo estas puchadas em parte por marinheiros, e attesta delles Officiaes de Marinha, tudo debaixo do immidiato Commando do Mayor Cotter, que me satifez grandemente, e me deo as provas mais decizivas do seu valor, e intelligencia em tudo quanto fui necessario fazer, não duvidando de pór em prática a mais pequena coiza que lhe determinei, 

/pois que assisti ao dezembarque, e a marcha que fez aquelle Corpo, até que abarracou fóra da Povoação, tendo primeiro Ordenado, que fizesse alto a Columna, a tiro de fuzil fóra da Torre de Maldonado, e logo depois entrou dentro da Cidade o Ex.""' Conde de Vianna, para tratar das Condições que remetto por Cópia, e me forão apprezentadas na frente da Tropa, que estava em  linha na frente da dita Torre, onde eu estava ao lado do Commandante della, elogo que approvei o que o Ex.""' Conde tinha feito; este subio a sobre dita Torre, com alguns dos Commandantes dos  Navios, e varios Officiaes da Marinha, e elle mesmo issou e fes tremolar a Bandeira  Portugueza, seguindo-se logo trez descargas de mosquetaria, e húa salva d'artelharia e sette Vivas de Viva  EIRey, seguindo-se immediatamente embandeirar a Esquadra, e dar huma salva Real; 

/e devo dizer a V. Ex.ª que foi hum dos dias que tenho tido de maior prazer, porque em todos observei o maior contentamento possivel, e dezejando achar a maior rezistencia, para mostrarem o dezejo que tem de se exporem pelo nosso amavel Soberano; e quando virão que não podião satisfazer a sua Vontade, não ficarão nada satisfeitos; devo igualmente partecipar a V. Ex." que estou muito agradecido ao Conde de Vianna, pois que tem huma grande parte nesta acção, que foi por mim encarregado da dispozição della, em que mostrou decizivamente a sua grande intelligencia, e interesse que tóma por todo, e qualquer servio de S. M. aquem devo recommendar todos os Officiaes, não só de Marinha, mas tambem da Tropa, e destes com particularidade o Major  Cotter, e o Capitão d Artelharia, Antonio Joze da Silva; 

/ e pouco antes de se pór o sol embarque¡, e mais o Ex.mo Conde de Vianna, tendo deixado as Ordens que herão necessarias ao Mayor Cotter, para que não avançace para o frente por que o meu Plano, não hera o de conquistar mas, sim o de sustentar aquella pozição, e do que elle hera de parezer. 

Remetto a V. Ex.ª a Proclamação que fez. 

Deos Guarde a  V.  Ex
Abordo da Nau Vasco da Gama, surta defronte de Maldonado, 23 de Novembro del 1816.

Illmo Ex.mo Snr Marquez d' Aguiar
Rodrigo  Joze  Ferr.ª  Lobo
Chefe da Divizão Com.te

Imagem
Costa de Punta Ballena, a oeste de Maldonado, como em

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:PANO_20141019_173454.jpg

Fonte

- Comisión Nacional Archivo Artigas, Archivo Artigas, Montevideo, Monteverde, tomo 31.

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