segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Batalha de São Borja (3 de Outubro de 1816)


Antecedentes
A vila de São Borja, nas missões orientais junto ao rio Uruguai, estava sitiada desde 21 de setembro. Após vários ataques, nomeadamente o de 28 de setembro, estava planeado um novo assalto oriental para o dia 3 de Outubro. 
É já na preparação das forças orientais sob André Artigas, que José de Abreu chega, atacando imediatamente a retaguarda, iniciando uma ação geral e a retirada oriental, terminando com o cerco à importante vila de fronteira.

O Plano de Artigas (voltando atrás)
Em Julho, o plano de José Artigas era o de avançar simultaneamente as suas forças em Missões e na fronteira do Quaraí, com o objetivo de entrar pela província do Rio Grande até à Serra Geral e ameaçar o flanco português, nomeadamente a Divisão de Voluntários Reais que começava a desembarcar nas praias de S. Catarina. A ação oriental deveria ser forte e rápida.

A Invasão das Missões Orientais
A 25 de agosto, José Artigas dá ordens a Andrès Guatuçari Artigas que avance sobre São Borja e que ele próprio iniciaria a ofensiva em breve, informando-o que os portugueses já haviam entrado em território oriental, no Cerro Largo. As fontes indicam que Artigas estava com dificuldades na recolha de cavalos, um problema que acossava também os portugueses.
Obedecendo às ordens, com a demora normal numa operação desta envergadura, Andrès Guatuçari, conhecido entre os portugueses como Artiguinhas, passa o rio Uruguai no passo de Itaqui a 12 de setembro, arrolando a guarda portuguesa em São João Velho, dando assim início à invasão das missões orientais.
[…] repasó el [........] [rio Uruguai] el 12 del pp. este dia forsó la guardia portuguesa q. estaba en la costa bien atrincherada. Apesar de su fortificacion fue asaltada y pasados a cuchillo 87 hombres q havia,  en  este dia  fue erido el Cap. Miño, un teniente, sinco sold[ado]s y tres muertos por otra parte. (Gorgonio Aguiar, carta de 11/10)
Quatro dias depois, a 16, Andresito desbarata um destacamento português de cerca de 300 elementos vindos de São Borja, comandado pelo capitão Ferreira Braga. A ação fica conhecida como o combate de Rincão de La Cruz:
El 16 se le presentaron 200 portugueses q. destroso al momento haviendoles muerto catorse y el resto disparado a S. Borja. (Gorgonio Aguiar, carta de 11/10)

Sítio de São Borja e... 
A 21 de Setembro, Andrés Artigas monta sítio à vila de S. Borja, intimando o brigadeiro Francisco das Chagas Santos à rendição. O brigadeiro comandante de S. Borja tinha, de acordo com Moraes Lara, ao seu dispor 200 homens, entre os granadeiros do Regimento de Infantaria de Santa Catarina e unidades brancas e guaranis locais.

A Ação de Yapeyú
Ao mesmo tempo, cem quilómetros a sul, nas costas do rio Uruguai, o tenente coronel José de Abreu (com ordens de aliviar S. Borja e atacar qualquer força oriental) batia em pormenor as forças de Pantaleón Sotelo, no passo de Yapeyú, que passavam para reforçar Andrés Artigas em S. Borja. 

Por não ter tido tempo de passar a cavalhada no dia anterior, Sotelo foi atacado por Abreu com as uma metade do sua divisão em cada margem do rio, sendo obrigado a retirar de novo para a margem direita do Uruguai, conforme nos informa Justo Negros:
Con esta fecha noticio a VS. q.e en el momento q.e me reuní con el comandante D. Pantaleon Sotelo para pasar su tropa del otro lado lo verificamos con los corsarios por el arroyo del vicuy [Ibicuí] el día veinte del q. gira y en virtud de no haver concluido deparar un corto trozo de Cavallada, tubimos q.e aguardar el día siguiente, luego q.e se concluyo dicho trabajo y q.e nos pusimos en franquia se nos presentaron los Enemigos en el mismo paso con dos piezas de Tren del Calibre de 4, luego q.e estos tomaron el monte principiaron a dirijir sus fuegos de cañon a los Buques y tropa q.e se hallaban deste lado; Inmediatamente determiné se hiciera safarrancho a bordo y rompi el fuego con los corsarios asta tirarles noche cañonasos contestandome ellos con seis de Bala raza; en nuestra Gente no se esperimento ninguna desgracia y al ber el  fuego de los Enemigos no sehoia mas voz q. era el de mueran los tiranos q. nos intentan oprimir.Seguidamente determiné salieran los Buques fuera del arroyo del Bicuy [Ibicuí] para lo qual nos habian preparado nuebamente una Embozcada de Cavalleria a esperar nos aproximaramos a la Costa para lograrnos, esta intencion nunca les surtió Efecto alguno pues con motivo de hir siempre una canoa armada con un cañon a la banguardia fueron descubiertos pues rompieron un fuego vivo afucileria y la canoa les correspondió con un cañonazo ametralla [Justo Negros, carta de 23 de Setembro]
[leia mais sobre a Ação do Passo de Yapeyú (21 de setembro de 1816)]


* * *

Continua o Sítio
Ao quarto dia do sítio de S. Borja, a 24, Andrès Artigas intima Chagas do Santos à rendição com um prazo de três horas. 
O brigadeiro português de 53 anos era o comandante das Missões desde Agosto de 1809, e, apesar de ter uma inferioridade de forças bastante apreciável, mantém uma defesa irredutível. No máximo, a um dada altura do sítio haveria 2 portugueses por cada 10 orientais, mas é de crer que muitas das forças de Andrès Artigas estivessem em outros serviços, em forreagem ou atacando outras povoações da região. 
O brigadeiro Chagas do Santos tinha no entanto bastante mais peças, disposta em defesa da vila de S. Borja; um total de 14 peças. Andresito só teria 2 peças e não é certo que as tenha tido em todo o sítio de 21 de setembro a 3 de outubro.

Ibicuí
Mais a sul, José de Abreu, tomando conhecimento que a norte do rio Ibicuí havia actividade inimiga, passou em dois dias este rio, que tinha as águas bastante altas:
[…] se empregarão  dois  dias  por  faltarem  todos  os  recursos, e pelas muitas águas que  inundavam [...] (José de Abreu) 
A 26 de Setembro, mal passa o Ibicuí, José de Abreu começa imediatamente a atacar as forças hostis:
Tendo [...] passado o Ibicuí [...] e sabendo que na sua margem direita andava huma Partida de Indios em saque, e ja possuidora de duas Carretas de effeitos, de hum Estanciero, fiz avanzar a guarda que flanqueava o lado direito da Divizão Comandada pelo Tenente Floriano dos Santos do Esquadrão d'Entre Rios, e este encontrando-a a destruirlo matando oito aprisionando dez mulheres, e somente fugindo  hum. No mesmo dia vindo-se reunir a Divisão o Cabo Ribeiro com uma Partida de quarenta Milicianos, e Paisanos encontrou outra dos Inimigos superior em n.º entre as pontas do Arroio  Yacuhy destinada a conduzir gado para os que cercavam S. Borja, e batendo-a a pôs em completa  fuga  com  perda  de  cinco. [José de Abreu]
No dia seguinte (27), José de Abreu, com os seus 600 efetivos, das três armas, continua a ditar um ritmo acelerado e, com base num batedor oriental capturado, bate 200 cavaleiros 'insurgentes' – avançadas da divisão de Sotelo – junto ao arroio Tuparaí. Alguns dos mesmos que haviam sido derrotados no dia 21, mais a sul.
[...] Havendo os flanqueadores aprendido um Bombeiro nas imediações do Tuparahy, deste soube que infestavam aqueles lugares 200 insurgentes, os mais avançados de Sotelo Comandante do reforço do Sitio (a quem desorganizei a marcha no Passo de Santa Maria no Ibicuí [no dia 21]) e destinando o Esquadrão de Dragões para os bater, este medindo de mais perto, as suas forças os entreteve até que foi reforçado, com mais cavalaria, e as puseram em derrota matando vinte [e] quatro e dispersando o resto sem o menor prejuízo dos nossos. (José de Abreu)
Ao oitavo dia do Sítio de S. Borja, a 28 de Setembro, Andresito efetuou um ataque geral à povoação, que  foi rechaçado por Chagas Santos. O comandante português faz menção nas suas cartas ao general Curado, da grande eficácia da artilharia e da infantaria nos muros da horta da vila nesse dia.

Passam os dias 29 de setembro a 2 de outubro sem nota, mantendo-se o sítio de S. Borja por Andresito e a progressão de José de Abreu, na sua direção, para o alívio da vila. 

Por volta do dia 2 de Outubro, Sotelo consegue finalmente juntar-se a Andrès Artigas, passando no Passo do rio Uruguai fronteiro a S. Borja, bastante mais a norte do que o primeiro sítio onde o pretendia fazer. 
Tendo as tropas de Sotelo reunidas a si, apesar das baixas que Abreu lhes infligiu nas semana anterior, Andrés Artigas marca um ataque geral à vila para o dia seguinte. Era este já o 13.º dia do sítio. 
Urgia a tomada desta importante povoação, ou toda a estratégia oriental ficava em perigo nas Missões.

A Batalha
Na manhã de 3 de Outubro, Andresito dispunha metade da sua divisão perante S. Borja, mantendo, em retaguarda a outra metade, mais afastada para ocidente, para observar a eventual chegada dos portugueses de sul. As duas metades do divisão oriental estavam separadas por um pequeno arroio.
José de Abreu, a coberto de nevoeiro, conforme nos informa o capitão Moraes Lara, defronta-se com a parte ocidental, ou a retaguarda, e imediatamente o comandante português dispõe as suas forças.

Segue a narração oficial dos factos feita por José de Abreu.




***

Parte oficial do tenente coronel José de Abreu, sobre a batalha de São Borja [escrito em São Borja, 8 de Outubro de 1816.]

Ill.mo Snr.


Agora que tenho concluído a total Evacuação dos Insurgentes em toda a margem do Uruguai, desde a Estância do Capitão Francisco Soares em frente do Povo de Yapeyú até este cumpre ao meu dever participar a V. S. o complemento desta Comissão em que V. S. tão justamente se empenhava, e aonde caia o maior peso das forças inimigas.

[26.9]


Tendo no dia 26 do que expirou passado o Ibicuí (onde se empregaram dois dias por faltarem todos os recursos, e pelas muitas águas que inundavam) e sabendo que na sua margem direita andava uma Partida de Índios em saque, e já possuidora de duas Carretas de efeitos, de hum estancieiro, fiz avançar a guarda que flanqueava o lado direito da Divisão comandada pelo Tenente Floriano dos Santos do Esquadrão d'Entre Rios, e este encontrando-a a destruí-lo matando oito aprisionando dez mulheres, e somente fugindo hum. No mesmo dia vindo-se reunir a Divisão o Cabo Ribeiro com uma Partida de quarenta Milicianos, e Paisanos encontrou outra dos Inimigos superior em n.º entre as pontas do Arroio YACUHY destinada a conduzir gado para os que cercavam S. BORJA, e batendo-a a pôs em completa fuga com perda de cinco.  

[27.9]


No dia 27 havendo os flanqueadores aprendido hum Bombeiro nas imediações, do TUPARAHY, deste soube que infestavam aqueles lugares 200 Insurgentes, os mais avançados de SOTELO Comandante do reforço do Sitio (a quem desorganizei a marcha  no PASSO  DE SANTA MARIA no IBICUÍ [21/9]) e destinando o Esquadrão de Dragões para os bater, este medindo de mais perto, as suas forças os entreteve até que foi reforçado, com mais cavalaria, e as puseram em derrota matando vinte quatro e dispersando o resto sem o menor prejuízo dos nossos.  

(...)

[3.10 - a batalha]


Finalmente no dia 3 do que corre aproximando-me em distância de meia légua no sitiado assomou o Inimigo numa altura que fica por detrás do mesmo em n.º de 800 homens, e chamando-nos para aquela parte com uma continuada fuzilaria dispus a Divisão em Ordem de Ataque em quanto avançava hum Esquadrão d'Entre Rios comandada pelo Tenente Romão de Sousa a reprimi-lo, e corta-lhe a comunicação que tinha pelo flanco esquerdo com o resto do Exercito, composto de 700 Insurgentes, porém notando que quanto mais nos aproximávamos mais se dispersava, e que com marchas retrogradas ora compunha pequenas massas ora debandara, e com pequenas escaramuças pretendendo penetrar os nossos flancos; 


Ordenei em detalhe os diferentes Corpos apropriando os ao terreno que nos ofereciam. 


A Infantaria da Legião de São Paulo dividida em duas partes, e comandadas pelos Capitães [Joaquim da] Silveira [Leite]  e [José Joaquim] Machado [de Oliveira] avançou a ocupar dois pomares que serviam de apoio aos Insurgentes e que na sua retirada pareciam limpos. Noventa e uma balas daquela Arma fizeram o mais pronto efeito, e que era de esperar de um Corpo que com bravura e intrepidez entranhou-se naqueles lugares que serviam de emboscada aos Inimigos que em numero de 91 esperavam ocasião própria de operarem.  


A Artilharia e Cavalaria do mesmo Corpo comandadas pelos Tenentes [José Joaquim da] Luz e  [José de] Castro [do Canto e Melo] , depois de terem protegido a marcha da Infantaria, e depois de a colocarem nos Pomares; a primeira em lugar oportuno começou as suas cargas de metralha dirigidas as pequenas Massas quando se formaram, e varrendo-as decididamente e em muito prejuízo dos contrários, deu pronta ocasião a segunda para com todo o peso, e com mais pronta velocidade tomar uma boca de fogo, e concluir a derrota total dos inimigos.  


O Esquadrão de Dragões do comando do Capitão [José de Paula] Prestes disposto por sua ordem no centro tive pouco que avançar porém teve ocasião de reprimir o Choque de uma Escaramuça com que intentava o inimigo bater-nos pela retaguarda. 


O Corpo dos Naturais Lanceiros formando sempre a vanguarda da Divisão nesta acção teve de ocupar o terreno em frente do flanco direito, e na sua Ordem dispersa de ataque, e em correrias singelas destruiu os mais dispersos do Inimigo, e serviço de apoio aquele flanco.  


Não quis empenhar todas as forças da Divisão neste Choque, e ficou como de reserva, e observação o Esquadrão de Milícias do Rio Pardo, e a Guarda da  retaguarda composta de cinquenta homens alem da que guardava a munição e bagagem tudo debaixo das disposições do Capitão Corte Real para em caso de precisão aplicá-los as circunstâncias que ocorressem.  

Comandante das forças orientais no sítio e na batalha de S. Borja

É incrível que hum Inimigo indisciplinado se bem que feroz sem ordem, e posto em confusão se arrostasse por espaço de duas horas na persuasão de fazer balancear as nossas Armas: ele pretendeu em vão uma arrebatada fuga para todos os lados, foi a conclusão da vitoria.  


Os poucos que restavam dos que atacamos unindo-se aquela parte do Exercito que acaba de Sitiar o POVO, passando o com tanta rapidez, e desordem que deixaram-nos uma boca de fogo e uma Carreta com alguma munição.  

Esta retirada praticada com tanta violência, e em tempo que ainda se  aplicaram os Corpos que atacavam a total extinção de alguns dispersos, só foi observada pelo Corpo de reserva que nada podia operar pela sensível desproporção de forças, por em quando as circunstâncias o permitiram destaquei os Esquadrões de Dragões, e D' Entre Rios com toda a reserva, e logo após o resto da Divisão para  picar-lhe a retaguarda, o que foi sem fruto por causa da grande distância que haviam ganhado na nossa vanguarda, e porque o supra dito banhado impediu a velocidade que se devia praticar naquele caso.  


Tendo marchado para o povo soube que outra parte dos Inimigos em n.º de 700 se encaminhava para o PASSO DO URUGUAI no intento de o passar, imediatamente dirigi para aquele lugar a Infantaria protegida pelo Esquadrão de Milícias do  Rio Pardo com as duas bocas de fogo; foi muito a tempo esta avançada pois encontrando ainda o inimigo que principiava a passar pelo fogo de Artilharia assestada do outro lado, e por uma das barcas Canhoneiras que em Yapeyú serviu-lhes para igual efeito; bateu-os completamente, e os apertou contra o Rio de tal forma que aqueles que não eram alvos do fuzil iam perecer nas suas águas.


A Artilharia dirigindo as suas pontarias com tanto acerto meteu ao fundo uma canoa com Armamento, e gente, e rompeu a bandeira da Canhoneira. O resto dos Inimigos que ficou deste lado procurando salvar-se no mato foi batido pela Infantaria, e obrigado com mais rapidez a lançar se ao  Rio, aqueles que não estavam ao alcance do seu peto


Havendo-se retirado esta gente, e depois de estar mais descansada fiz marchar os Esquadrões de Dragões, e de Milícias do Rio Pardo, e com alguns Milicianos desta Província comandados pelo Capitão Prestes em seguimento da Coluna Inimiga que se havia retirado pelo banhado depois de acossada pelo primeiro Ataque.  

[4.10]


No dia 4 a encontrou em distância de cinco léguas deste Povo, e dirigindo-se para o Uruguai no lugar onde este conflui o Arroio Butuí; aí atacou-a, e com muita vantagem apesar da desproporção das  forças, pois opondo a mais de 700 a sua gente composta de duzentos matou quarenta e tantos atropelou-os, e os fez retirar por grande espaço e com muita velocidade, mas aproximando-se a noite, e receando a exposição da gente, e além disto muito distante do grosso da Divisão retrogradou a sua marcha para este Povo com a  Perda de cinco Milicianos desta Província.  

[5.10]


No dia 5 marchei com toda a Divisão,  

[6.10]
e o 6 chegando aquele lugar nada mais encontrei senão 620 cavalos, que ainda pretendiam passar, e os recentes sinais de uma desesperada fuga pelo Uruguai; Tendo, assim ultimado a Comissão de  que por V. S.ª  fui encarregado, não só de romper o assédio que apertava este povo como de limpar esta Província dos Insurgentes que a infestavam, e que com ligeiros passos pretendiam escravizá-la em titulo de liberdade, tendo em primeiro lugar de tender as Graças, ao Altíssimo como primeiro móvel de todo o bem, e em segundo a valentia, e hábil Oficialidade, e mais indivíduos desta Divisão que com a mais heróica intrepidez, e coragem repeliram o Inimigo, e o fizeram conhecer em poucos momentos que o peso das Armas Portuguesas não fraqueja. Sim Ill.mo Snr não teve a presença de 20 Inimigos força bastante para fazer vacilar a sua valentia e patriotismo.


Eles foram batidos constantemente, e de certo metade daquele número pagou com a vida os seus insultos, e devastações. Dois mil e tantos cavalos ficaram em nosso poder assim como uma grande quantidade de Armamentos, duas bocas de fogo de Cal-3, e 6, alguma munição de guerra, todas as montarias da Coluna que passando o Uruguai no Passo deste Povo, toda a grande e interessante correspondência entre os dois Artigas, da qual parte já enviei a S. Ex.ª, e 74 Prisioneiros de ambos os Sexos inclusos um Capitão, um Alferes, e 4 Negros.  


Vejo-me na triste precisão, e com toda a sensibilidade de acrescentar a esta Exposição a perda de 2 Soldados da Legião de S. Paulo, os 2 dignos Portugueses que um no conflito, e outro no seguinte dia deram a vida no Criador, tem sido ela bem lamentável, e já mais se apagará da nossa ideia a lembrança de duas vitimas imoladas a Pátria pelas mãos de uns bárbaros que estão bem longe de apreciar as qualidades de hum Soldado Português e que naqueles bem se distinguiram o n.º somente 15 feridos 8 levemente, e o resto com mais gravidade. 


Nada mais me resta dizer a V. S., a quem desejo completa saúde e felicidades. 


Deos Guarde a V. S. Povo de S. Borja 8 de Outubro de 1816


Ill.mo Sñr Brigadeiro Thomaz daCosta Correa Rabelo e Silva
José de Abreu.




Baixas

S. BORJA E AÇÕES SOBRE O URUGUAI

MORTOS FERIDOS
Ação OFICIAIS PRAÇAS OFICIAIS PRAÇAS
Cav, LSP 0 1 0 1
Inf, LSP 0 1 0 3
Art, LSP 0 0 0 1
Reg Mil Rio Pardo 0 10 0 1
Reg. Entre Rios 0 0 0 6
TOTAL 0 12 0 12


LSP = Legião de Voluntários Reais, São Paulo


* * *


COLUNA ABREU: Ordem de Batalha

Tenente coronel José de Abreu, comandante


Cavalaria:

1 esquadrão, Regimento de Dragões do Rio Grande (capitão José de Paula Prestes);
1 esquadrão, Legião de S. Paulo (tenente José de Castro Canto e Melo);
1 esquadrão, Regimento de Milícias do Rio Pardo (tenente Olivério José Ortiz);
1 esquadrão, Milícias do Distrito de Entre Rios (tenentes Romão de Sousa & Joaquim Félix de Fonseca);
1 esquadrão, Milícias Guaranis;
Total de 513 efetivos

Infantaria:

Capitães Joaquim da Silveira Leite & José Joaquim Machado de Oliveira
Legião de São Paulo, 117 homens

Artilharia:

2.º Tenente José Joaquim da Luz
Legião de São Paulo, 23 homens, guarnecendo 2 peças de calibre 3

Total geral: 653


Guarnição de S. Borja: Ordem de Batalha e Baixas


Brigadeiro Francisco das Chagas Santos, comandante


- Companhia de Granadeiros, Regimento de Infantaria de S. Catarina (Capitão José Maria da Gama Lobo);

- Milícias Brancas;
- Milícias Guaranis;
c. 200 efetivos 

De acordo com Moraes Lara, a guarnição teve 5 feridos graves e 4 leves nos assaltos à vila, prévios à batalha.


* * *

Leia mais:

Batalha de S. Borja: A primeira notícia (dada por Hipólito Francisco de Paula a Joaquim Xavier Curado, a 9.10.1816):


* * * 

Biografias
- Tenente coronel José de Abreu
- Brigadeiro Francisco das Chagas Santos


Fontes

- Comisión Nacional Archivo Artigas, Archivo Artigas, Montevideo, Monteverde, t. 31: pp. 364-367
- Diogo Arouche de Moraes Lara, “Memória da Campanha de 1816”, in: Revista trimensal de Historia e Geographia, ou, Jornal do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, n.º 27, Outubro de 1845

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